Duas batidas e uma melodia


Eu ouvia o silêncio da rua, tudo parecia ter parado, até mesmo a lua se fixou em um lugar e ficou a nos assistir. Olhei da varanda para a calçada, e tudo estava tão vago. E lá do oitavo andar estávamos nós.
Na escuridão do apartamento a única luz eram as dos seus olhos, que aos poucos se enfraquecia. Toquei em seu corpo e o que eu senti foi o medo do fim. Caminhava de um lado para o outro, e a lua me ajudava a enxergar levemente os traços do seu rosto, do seu corpo. Se alguém se sentia fraco ali, o alguém seria eu, por ter sido tão inútil a ponto de me entregar ao medo de tal forma. Eu me agachei, encostei a cabeça na parede e te analisei, olhei cada detalhe por inteiro e pensei, por um instante, que você talvez tivesse sido esculpido. Olhava para o teto, olhava para os moveis, e me entreguei à escuridão.
Levantei, já tinham passado dez minutos, e para mim cada minuto a mais parecia que o medo se aconchegava dentro de mim. Por um instante te vejo levantar, seus olhos acesos, seu corpo firme e sua cor viva, seus passos vinham em minha direção. Guardei-te dentre meus braços e senti o nosso calor, te entreguei o beijo mais apaixonado que guardava dentro de mim, para depois ver seu sorriso ao lado do meu. Olhei para tudo em minha volta e senti a brisa passar, a luz acender, a lua cobriu-se com as nuvens para se proteger da noite fria e eu fiquei intacto. Sentia meu coração bater perto do seu corpo, ele acelerava a cada instantes que sentia seu corpo, que sentia seu cheiro, coloquei a mão em seu peito e fiquei a sentir a melodia dos nossos corações.

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