Herança fotográfica


Eu me recordo perfeitamente do momento que peguei a máquina fotográfica e mirei aquele rostinho miúdo. De longe a avistava deitada, com sua roupinha cheia de mimos e as bochechas rosadas. Ela parecia estar confortável naquela posição e, enquanto todos almoçavam, eu fiquei a admirar aquele ser que hoje é um capítulo da minha vida.

Já se passaram três meses que a vi pela última vez e, por causa da distância, minha pequena fica guardada nas lembranças de uma fotografia. Às vezes me pego distraído, admirando-a pela imagem guardada no meu celular e sorrio. Tento desvendar o mistério de como um ser tão pequeno conseguiu se tornar um dos meus maiores motivos de felicidade.

Sem tirar nem pôr analiso cada detalhe do pequeno ser, e percebo os traços que a tal carrega como herança de sua família. Talvez eu quisesse ter vivido mais aquele momento em que parei para encontrar o melhor ângulo e tentaria percebê-la mais ainda. Poderiam ter acontecido diversas possibilidades para que eu pudesse vivenciá-la, mas decidi registrar aquele instante.

‘’O que será que ficou na fotografia? ’’Essa é uma pergunta que eu me faço nesse momento, quando penso o que já se passou e percebo que só me restaram os sentimentos. Lembrar de minha sobrinha e relatar a saudade é uma dor que vai me acompanhar ao longo de minha vida. Não é possessividade, mas sim querer estar lado a lado e vivenciar os primeiros passos.

Lembro-me que logo após apertar o clique da maquina fotográfica ela despertou do seu longo sono matutino, abriu os olhos vagarosamente em minha direção e me encarou. Fixo meus olhos nos dela e ambos abrimos um sorrisão. Talvez esse tivesse sido o momento ideal para tê-la fotografado, mas não, eu preferi aproveitar aquele momento.

Olhando a fotografia analiso quando os seus olhinhos ainda estavam fechados, deitada confortavelmente, transmitindo uma paz inigualável. Aquele momento coadunava uma mensagem que não precisou de palavras para mim, pois me permiti somente sentir.

Momento

Por que fotografá-la dormindo? Talvez devesse realmente ter tirado uma foto dela balançando os braços, sorrindo ou até mesmo chorando, pelo menos estaria exprimindo necessariamente algum sentimento. Agora não tem mais jeito, aquele momento em que capturei minha pequena sobrinha no seu momento de relaxamento está materializado em um pedaço de papel, como um modelo de benevolência.

Neste exato momento em que escrevo recordo da minha pequena sobrinha com reminiscência, mas isso não significa que a esqueci. Seus movimentos e barulhinhos como se quisessem dizer algo remetem à minha imaginação como uma miragem. Mas quando olho a fotografia sinto o conforto de tê-la guardado naquela imagem, como um momento de catarse.

Guardo na foto não somente uma herança, mas também detalhes de sentimentos transportados a partir do meu olhar. Registrei naquela fotografia um momento que não poderei trazer de volta, mas vivi naquele instante. Conservo naquela imagem o amor por Emanuela. Que o tempo não poderá apagar, máquina alguma conseguirá arquivar e que o retrato poderá eternizar dentro do meu álbum de fotos.

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